Viver em uma era de mudanças climáticas causadas pelo ser humano significa lidar constantemente com o alerta do aquecimento do planeta. Uma das formas que os cientistas utilizam para ilustrar essa ameaça é por meio do conceito de pontos de inflexão climáticos, também conhecidos como limites planetários, que representam aproximadamente nove limiares ecológicos críticos capazes de provocar impactos severos e irreversíveis na vida na Terra caso sejam ultrapassados. Entre esses limites estão a integridade da biosfera, a redução da camada de ozônio, a acidificação dos oceanos e um fenômeno mais recente denominado desoxigenação aquática, que é a perda de oxigênio dissolvido nas águas, afetando ecossistemas marinhos e de água doce.
Apesar de esses limites serem tratados com seriedade, alguns cientistas avaliam se o oposto dessas barreiras preocupantes, os chamados pontos de inflexão positivos, poderia incentivar indivíduos, comunidades e países a adotarem políticas ambientais mais ambiciosas. Esses pontos positivos representariam momentos em que a adoção de tecnologias ou comportamentos sustentáveis desencadearia uma sequência contínua de efeitos benéficos, acelerando mudanças estruturais.
O objetivo de um estudo recente é desenvolver uma metodologia para identificar possíveis pontos de inflexão positivos, avaliar o quão próximos estamos de alcançá-los, determinar quais fatores, favoráveis ou desfavoráveis, podem influenciá-los e propor ações que aumentem as chances de eles ocorrerem. Tim Lenton, pesquisador envolvido, destacou que o desafio atual é identificar esses pontos e as ações capazes de antecipá-los, evitando interpretações otimistas sem fundamento ou simplificações excessivas sobre sua natureza, causas e consequências. Ele alertou que a economia global está reduzindo suas emissões de carbono a uma velocidade pelo menos cinco vezes menor do que a necessária para cumprir a meta do Acordo de Paris, que busca manter o aquecimento global bem abaixo de 2 °C.
Ainda assim, já existem avanços concretos. A adoção em larga escala da energia eólica e solar nas últimas décadas não só aumentou a geração de energia renovável como também atraiu investimentos para esses setores, reduzindo os custos de produção que antes eram elevados. O estudo aponta que a disseminação do uso de bombas de calor pode ser considerada um exemplo de ponto de inflexão positivo e que até mudanças nos hábitos de consumo da população podem estar nesse caminho.
Steve Smith acrescenta que transformações como uma moderação no consumo de carne podem ser mais viáveis do que aparentam. Ele observa, porém, que em alguns setores, como energia nuclear e produção de concreto, não há sinais de que existam pontos de inflexão positivos, e em alguns casos, nem é esperado que eles ocorram.
Os autores do estudo convidam outros cientistas a colaborar no aprimoramento dos critérios para definir esses pontos positivos, que eles consideram um “antídoto” contra a narrativa predominantemente pessimista em torno das mudanças climáticas. Embora seja crucial monitorar os sinais de alerta planetários, estabelecer metas práticas e factíveis de mitigação pode contribuir para transformar o planeta em um lugar sustentável para as próximas gerações.
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