Embora hoje já se saiba que os seres humanos continuam a produzir novas células cerebrais ao longo de toda a vida, ainda há controvérsia sobre se esse processo ocorre em áreas específicas do cérebro relacionadas à memória. Estudos anteriores apresentaram argumentos tanto a favor quanto contra a existência da neurogênese, a formação de novos neurônios, no hipocampo após a infância. Agora, uma nova pesquisa apresenta algumas das evidências mais consistentes até o momento de que essa região fundamental para a formação de memórias continua a produzir novos neurônios mesmo na vida adulta.
O foco do estudo foi o giro denteado, uma subregião do hipocampo que atua como centro de controle de emoções, aprendizado e memórias episódicas. A equipe utilizou análise de RNA para identificar a função das células cerebrais em amostras colhidas de pessoas com até 78 anos de idade. Os resultados mostraram que parte dos neurônios analisados apresentava características funcionais de células progenitoras neurais, as chamadas NPCs, capazes de gerar novos neurônios. Além disso, os pesquisadores encontraram semelhanças entre as NPCs humanas e as de outras espécies, como camundongos, porcos e macacos.
Utilizando técnicas de aprendizado de máquina, os cientistas agruparam as células conforme o estágio de desenvolvimento, desde sua fase inicial como células-tronco até se tornarem neurônios imaturos em processo de divisão. Esses dados ajudam a esclarecer questionamentos levantados por pesquisas anteriores, inclusive de alguns dos mesmos autores, que já haviam detectado a presença de novos neurônios no cérebro humano sem conseguir identificar de forma precisa sua origem. Com os novos achados, os pesquisadores conseguiram apontar as células de origem, confirmando que o hipocampo humano adulto continua gerando novos neurônios ao longo da vida.
Ao analisar amostras de indivíduos em diversas faixas etárias, os pesquisadores também verificaram que a neurogênese no hipocampo persiste com o passar do tempo, ainda que com uma taxa geralmente menor conforme o envelhecimento avança. Outro dado relevante é que o ritmo de neurogênese varia entre as pessoas, o que pode indicar diferenças na plasticidade cerebral capazes de influenciar o aprendizado, a personalidade e a propensão a certas doenças. Essa hipótese, no entanto, ainda carece de investigação mais aprofundada.
Alguns participantes da pesquisa apresentavam histórico de doenças psiquiátricas ou neurológicas, o que levanta a possibilidade de que a capacidade de formar novos neurônios esteja relacionada a essas condições. Contudo, essa relação não foi explorada diretamente no estudo e exigirá análises futuras. Para os autores, os achados também podem contribuir para o desenvolvimento de terapias regenerativas que estimulem a neurogênese em distúrbios neurodegenerativos e psiquiátricos.
Leia também: Cientista inventa bateria biodegradável
Cientistas descobrem criatura que está entre a vida e não-vida