Uma nova pesquisa investigou os hábitos de sono das pessoas, com foco especial nos sonhos, e comparou esses dados com seus padrões alimentares. Um dos resultados obtidos revelou que quanto mais intensos eram os sintomas de intolerância à lactose, mais vívidos e perturbadores eram os pesadelos relatados pelos participantes. O estudo pode oferecer algumas respostas para questões levantadas em uma pesquisa anterior, publicada em 2015, que examinava os fatores que influenciam os chamados “sonhos dependentes de alimentos”, ou seja, de que maneira certos alimentos afetam o conteúdo e a qualidade dos sonhos.
Segundo o professor Tore Nielsen, um dos coautores dos dois estudos, na pesquisa anterior as pessoas frequentemente culpavam o consumo de queijo por seus sonhos ruins, e a investigação mais recente permitiu obter respostas mais consistentes sobre esse fenômeno. A pesquisa envolveu pouco mais de mil participantes, todos estudantes de uma disciplina introdutória de psicologia. Isso indica que os resultados podem não refletir com precisão o comportamento da população em geral, já que a amostra foi restrita a um grupo específico.
Entre os que relataram sintomas gastrointestinais severos causados pela intolerância à lactose, foram registrados pesadelos mais intensos, mensurados pela frequência com que ocorriam, pelo grau de angústia provocada, pelo impacto nas atividades cotidianas e pela duração dos episódios, que se estendiam por meses. Os alimentos mais frequentemente apontados como responsáveis pelos sonhos ruins foram produtos lácteos e doces.
Para explicar essa possível relação, alguns especialistas sugerem hipóteses plausíveis. Nielsen destaca que os sintomas de ansiedade associados à intolerância à lactose podem contribuir para o aumento da incidência de pesadelos. Marie-Pierre St-Onge, outra especialista na área, acredita que as perturbações no sono provocadas por problemas gastrointestinais podem explicar o elo entre alimentação e sonhos. Ela argumenta que, ao sofrer desconforto intestinal, a qualidade do sono pode ser comprometida, o que favorece o surgimento de sonhos mais intensos e negativos.
Patrick McNamara, professor de neurologia com foco em estudos sobre o cérebro e o sono, acrescenta que o consumo de alimentos que provocam reações adversas em pessoas com intolerância à lactose pode gerar “microdespertares” ao longo da noite, comprometendo o sono e potencializando a ocorrência de pesadelos.
Apesar dos indícios, tanto McNamara quanto os autores do estudo alertam que outros fatores, além dos sintomas gastrointestinais, podem estar envolvidos nessa associação. Nielsen reforça a necessidade de mais pesquisas sobre a possível conexão entre laticínios e sonhos, enquanto Russell Powell, também coautor do estudo, afirma que há planos para replicar os resultados em outros grupos de participantes.
Enquanto isso, Nielsen sugere que as próprias pessoas podem observar como certos alimentos afetam seus sonhos e, com base nessa autoavaliação, fazer ajustes em suas dietas. Essas mudanças de hábito, segundo ele, podem ser feitas sem a necessidade de orientação médica formal, dependendo apenas da percepção individual sobre os efeitos que determinados alimentos provocam no sono.
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