A rede estadual de ensino do Paraná atualmente acolhe mais de 15 mil estudantes estrangeiros, incluindo migrantes, refugiados e apátridas, provenientes de 78 diferentes nacionalidades. Entre eles, os grupos mais numerosos são os venezuelanos, haitianos e paraguaios, que juntos somam aproximadamente 12 mil matrículas.
Diante do crescimento contínuo da presença de alunos com pouca ou nenhuma familiaridade com a língua portuguesa, escolas estaduais vêm adotando estratégias específicas para promover acolhimento e apoio pedagógico, com foco na integração linguística e cultural desde os primeiros meses desses estudantes na rede pública do estado. Um exemplo disso ocorre no Colégio Ivonete Martins de Souza, localizado em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, que desde o ano anterior passou a receber um número expressivo de estudantes imigrantes e atualmente conta com cerca de 60 alunos estrangeiros.
A maior dificuldade enfrentada tem sido a barreira da comunicação, o que levou à inclusão dos estudantes no Programa de Melhoria da Aprendizagem da Secretaria da Educação, com foco no ensino de português como segunda língua. As aulas são ministradas semanalmente no contraturno, sob coordenação da professora Franciele Pacheco das Neves, com uso de materiais didáticos específicos para estrangeiros, e já contam com a participação de dez estudantes. A proposta pedagógica trabalha a alfabetização simultaneamente à construção de vínculos culturais, estimulando o respeito mútuo e facilitando o progresso acadêmico.
Os estudantes foram convidados a participar do projeto após uma triagem interna, com apoio de ferramentas de tradução digital e autorização dos responsáveis. Os primeiros resultados mostram avanços na adaptação desses alunos. Milka Zuluy Pérez Vielma, uma venezuelana de 15 anos que chegou ao Paraná em outubro de 2024, relata estar aprendendo o idioma com entusiasmo e sentindo-se acolhida. Nashlie Charite, haitiana de 12 anos que chegou em junho do mesmo ano, também expressa satisfação com o apoio recebido dos colegas e professores, destacando como o domínio do português tem tornado sua vivência escolar mais positiva.
O diretor da unidade, Syllas Moreira da Fonseca Neto, enfatiza que a ênfase na conversação tem contribuído não apenas para o aprendizado do idioma, mas também para aumentar a confiança e a participação desses alunos no ambiente escolar. Em outra frente, o Colégio Estadual Cívico-Militar Emília Buzato, em Campo Magro, também na Região Metropolitana de Curitiba, desenvolve ações de acolhimento que envolvem integração linguística e cidadania. Lá, ao receber um aluno estrangeiro, é feito um mapeamento para identificar estudantes que compartilhem a mesma língua ou nacionalidade, promovendo uma espécie de monitoria solidária entre colegas.
O novo aluno é acompanhado nos primeiros dias por um colega que atua como facilitador da comunicação e da ambientação escolar, inclusive durante atividades pedagógicas em grupo. Atualmente, esse sistema de apoio conta com cinco estudantes voluntários, quatro haitianos e um cubano. Um desses monitores, Frisna Orellos Hatiana, de 16 anos, estudante do 3º ano, explica que também ajuda a escola entrando em contato com os pais de outros estudantes haitianos, auxiliando na mediação linguística entre família e instituição.
Para reforçar esse processo de integração, a escola desenvolveu o projeto Saberes, realizado trimestralmente com a participação de todos os estudantes, promovendo atividades interdisciplinares que valorizam a diversidade cultural, como rodas de conversa, pesquisas temáticas e palestras sobre identidade, história e costumes dos países de origem dos estudantes.
Segundo o diretor Roberto de Oliveira, a proposta busca não apenas facilitar a adaptação, mas também incentivar o reconhecimento da multiplicidade cultural presente no cotidiano escolar. A presença desses alunos estrangeiros nas escolas do Paraná está respaldada por legislação específica. A Deliberação nº 09/01 do Plano Estadual de Educação garante o direito à escolarização independentemente da nacionalidade ou da apresentação de documentos. Os estudantes que não possuem comprovação formal de escolaridade podem ser inseridos mediante avaliação, idade compatível ou revalidação de estudos incompletos. Para os que não dominam a língua portuguesa, é possível cursar, de forma paralela, o curso de Português para Falantes de Outras Línguas (Pfol), oferecido gratuitamente pelo Centro de Línguas Estrangeiras Moderna da rede estadual, também disponível para familiares.
Além da estrutura educacional, o Governo do Paraná oferece suporte aos imigrantes por meio do Centro Estadual de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas, localizado em Curitiba. O local presta orientação jurídica, educacional, psicológica e social aos estrangeiros que buscam uma nova vida no estado.