domingo, junho 15, 2025
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Nancy Westphalen, um símbolo da evolução cultural e social de Curitiba

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A ex-diretora da Biblioteca Pública do Paraná nos anos 60 e 70, ativista para os curitibanos terem uma segunda ou terceira língua, Nancy Westphalen Corrêa, tem 95 anos e vive na parte norte da Praça Osório, sempre envolvida com cultura, principalmente literatura, além de conhecer Curitiba como ninguém, principalmente o coração central da capital do Paraná.

Não é para menos, Nancy Wetphalen mora no centro de Curitiba desde 1957, são 68 anos testemunhando as transformações arquitetônicas e sociais da cidade, desde a passagens dos mods nos anos 50, passando pelos punks nos 80 e a transformação de corredor após o ex-prefeito Rafael Greca degradar o comércio na região, durante a pandemia de Covid-19.

Natural da Lapa, Nancy Westphalen Corrêa nasceu no dia 5 de abril de 1930. Ela tinha 4 anos quando toda a família mudou-se para Curitiba. Com os pais, Joanita e Antônio, e o irmão, José, a menina foi morar inicialmente no bairro Bacacheri.

“Para ir e vir do Centro para o Bacacheri, o meio de transporte público era o bonde. Na altura da Casa Edith e do Paço Municipal, na Praça Generoso Marques, ele fazia uma curva que dava um friozinho na barriga”, conta ela. Os bondes só deixaram de circular na cidade em 1952.

Em 1957, a família de Nancy mudou-se para o Centro, mais precisamente para a Travessa Itararé, número 67. A via, com apenas duas quadras, fica na região onde hoje estão o Santuário e o Terminal do Guadalupe. “Foi o primeiro dos meus três endereços no Centro. Os outros dois, incluindo o atual, sempre foram ao redor da Praça Osório”, detalha ela.

Já os namoros e compromissos mais sérios começavam em salões como o do Clube Curitibano, um dos mais concorridos, que teve sua sede no Centro, entre 1950 e 1968, na Rua XV de Novembro esquina com Barão do Rio Branco. “No Curitibano, ocorriam grandes festas e bailes, como os de Natal e de carnaval”, cita Nancy.

Com linhas retas e modernistas, o prédio do Centro que antigamente foi o Clube Curitibano é hoje a sede de órgãos da Prefeitura de Curitiba, como a Cohab e o Centro de Referência Afro (Creafro).

Primeiro “Centro Cívico”
Nancy também explica que, até o fim dos anos 1950, o “Centro Cívico” da cidade ficava entre o Centro e o São Francisco. O atual edifício da Câmara Municipal foi a Assembleia Legislativa do Paraná, até 1953. A sede do Governo do Estado era o Palácio São Francisco (entre 1938 e 1956), o atual prédio do Museu Paranaense, na Rua Kellers. Na Praça Generoso Marques, ficava a Prefeitura, transferida para o Centro Cívico em 1969.

Cinelândia curitibana
Testemunha de um tempo em que o Palácio Avenida, o Edifício Garcez e outros prédios na Rua XV de Novembro e Avenida Luiz Xavier formavam a Cinelândia de Curitiba, Nancy seguia o ritual obrigatório para ir aos cinemas do Centro, com seus enormes letreiros luminosos chamando para as estreias de filmes.

“Todo mundo se arrumava para ver as sessões dos cines Palácio, Ópera, Avenida e Odeon. Antes ou depois, íamos a confeitarias, como a Guairacá e a das Famílias”, detalha ela. A Confeitaria da Família é até hoje programa obrigatório na Rua XV de Novembro e a Guairacá ficava no Palácio Avenida e fechou as portas em 1979.

Natal era na HM
A magia do Natal, recorda Nancy, acontecia na Rua Barão do Rio Branco, com as grandiosas decorações da loja Hermes Macedo entre os anos 1950 e 1990.

“A rua virava extensão da festa da HM, com um enorme arco de Natal em plena Barão do Rio Branco. Eu levava meus sobrinhos, Ana Luiza, José Antônio e Ana Teresa, no meu fusca para ver a decoração”, revela ela.

Além da HM, outros estabelecimentos de comércio de rua no Centro eram disputados pelos curitibanos na hora de fazer compras. Artigos finos para casa, como cristais importados da Europa, sempre foram adquiridos na Casa Glaser, na Rua Comendador Araújo até hoje.

Já a Casa Edith, na Praça Generoso Marques, continua aberta e sempre foi voltada ao público masculino. “As mulheres preferiam as costureiras e escolhiam os tecidos em lojas como a Casa Louvre, na Rua XV de Novembro”, esclarece. Consumido por um incêndio na década de 1990, o prédio em estilo art nouveau da antiga Casa Louvre, construído em 1913, foi restaurado sob supervisão do Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) e abriga uma unidade da Loja Marisa.

Rua XV vira Rua das Flores
Sobre um dos momentos mais marcantes da transformação do Centro, o fechamento da Rua XV de Novembro, que virou o primeiro calçadão para pedestres do país no dia 19 de maio de 1972, Nancy recorda que foi muito polêmico.

“Eu estava no Rio de Janeiro, estudando. Mas voltei meses depois. O Jaime Lerner foi muito corajoso em criar a Rua das Flores e não faltaram críticos, pois a rua era onde ocorriam as voltas e mais voltas de carro para se ver o footing (ato de caminhar nas calçadas de ruas e praças de cidades)”, explica.

Sobrenome de rua
Nancy vem de duas famílias paranaenses da região dos Campos Gerais. Seu sobrenome materno é bastante conhecido dos curitibanos, estampando placas de uma via que começa no Centro, a partir da Rua Emiliano Perneta, até o bairro Parolin: a Desembargador Westphalen é uma homenagem ao magistrado e deputado Emygdio Westphalen (1847-1923), parente do bisavô materno dela.

Nancy não se casou e seu irmão, José, faleceu em 2011. Sua família atualmente é formada pela cunhada, três sobrinhos, dois sobrinhos netos e uma sobrinha bisneta. Atualmente, ela se dedica a frequentar o Centro Espírita Abibe Isfer (CEAI), do qual foi a primeira diretora-administrativa e responsável pela reforma do prédio da Alameda Cabral, e os eventos na Aliança Francesa, sendo presidente de honra da instituição com sede na Alameda Prudente de Moraes, ambos no Centro.

Idosos são 20% dos moradores do Centro
Nancy integra os 20% dos moradores do Centro de Curitiba com mais de 60 anos, um público importantíssimo para qualquer bairro pois um grande número de idosos em determinada região é garantia de que o espaço público está sendo bem-cuidado. Os outros 80% se dividem: 50% entre 20 e 39 anos, 20% entre 40 e 59 anos e 10% entre 0 e 19 anos.

“Idosos costumam valorizar aspectos como a arborização das ruas e a qualidade das calçadas, pois gostam de caminhar pela cidade e cuidar do que é de todos. Eles sabem que o bem mais precioso de uma cidade é o espaço público”, afirma a secretária municipal de Desenvolvimento Humano, Amália Tortato. A pasta é responsável pela articulação de políticas públicas para a pessoa idosa, além de migrantes, crianças e adolescentes, prevenção ao uso de drogas e Terceiro Setor.

Se depender do prefeito Eduardo Pimentel, neto do ex-governador, o projeto Curitiba de Volta ao Centro, lançado em fevereiro deste ano, vai tornar o bairro ainda mais amigável tanto para quem já vive como para quem planeja morar ou investir no Centro

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