Descobertas recentes apontam que nossos companheiros de quatro patas, apesar de proporcionarem conforto e afeto, podem estar interferindo negativamente na qualidade do nosso sono. Muitos tutores permitem que seus animais durmam na mesma cama, o que costuma perturbar o descanso noturno, ainda que, para muitos, essa seja uma troca que vale a pena. Os especialistas, por sua vez, não discordam completamente.
Melissa Milanak, especialista em saúde do sono, afirma que a maioria dos pacientes atendidos em sua clínica relata ser frequentemente interrompida por seus animais durante a noite. Embora ela reconheça que os efeitos não são iguais para todas as pessoas, há fortes indícios de que a presença dos pets durante o sono impacta negativamente o repouso.
Em termos gerais, ter um animal de estimação é benéfico para a saúde: eles ajudam a reduzir o estresse, estimulam a prática de exercícios e oferecem conforto emocional. Muitos tutores relatam sentir uma sensação de segurança e aconchego ao dormir com seus bichos de estimação por perto. Contudo, os ciclos de sono naturais de cães e gatos diferem, em muito, a dos humanos. Cães, por exemplo, têm um sono mais leve e acordam várias vezes ao longo da noite. Alguns deles ainda apresentam comportamentos instintivos, como arranhar cobertas, o que pode atrapalhar as fases mais profundas do sono mesmo que o tutor não desperte completamente.
Gatos, por sua vez, são notoriamente ativos ao anoitecer e nas primeiras horas da manhã. Isso ocorre porque sua evolução os tornou caçadores crepusculares, o que explica os famosos “ataques de energia”. Esses picos de atividade frequentemente coincidem com os momentos em que os humanos estão tentando dormir ou acordar, podendo gerar perturbações no sono.
Outro ponto levantado por Milanak envolve a exposição a alérgenos como pelos, partículas de pele (conhecidas como caspa animal) e microrganismos trazidos da rua. Esses fatores podem afetar a respiração durante a noite, comprometendo a qualidade do sono profundo, mesmo sem causar sintomas imediatos.
Brian Chin, um professor de psicologia social, observou que seus estudos associaram o hábito de dormir com animais a uma qualidade de sono inferior, especialmente no que diz respeito a sintomas de insônia. Ele destaca que muitos tutores relutam em reconhecer esse impacto em pesquisas, pois não acreditam que seus animais estejam causando problemas ou não querem admitir isso. Chin, inclusive, relata ter um gato que o mantém acordado à noite e outro que o deixa em paz, o que o coloca também na posição de quem vive o dilema.
Além disso, quanto maior o número de animais dormindo no mesmo ambiente, maior a probabilidade de interrupções no sono, segundo Chin.
A solução, no entanto, não é simples. Milanak explica que não basta dizer aos tutores que eles devem impedir os animais de dormirem com eles. Para muitos, isso já se tornou parte da rotina do sono, e a presença do animal funciona como um gatilho psicológico para relaxar e adormecer. Por isso, ela adota uma abordagem gradual com novos pacientes, fazendo várias perguntas antes de chegar ao ponto central. Muitas vezes, as pessoas nem percebem que estão acordando durante a noite devido ao comportamento dos pets, e só passam a suspeitar disso depois de conversar sobre seus hábitos noturnos.
A comparação feita pela especialista é clara: dizer a alguém para não dormir mais com seu pet é como pedir a um fumante que pare de fumar — a resposta tende a ser uma lista de justificativas para manter o hábito.
Como alternativas práticas, Milanak sugere colocar uma cama para o cachorro no chão do quarto ou manter o gato fora do cômodo durante a noite. Para quem insiste em dividir a cama com o animal, recomenda-se lavar os lençóis com maior frequência e, se possível, ajustar o próprio horário de sono ao do animal. Isso pode significar ir para a cama mais cedo para poder acordar mais cedo, por exemplo.
Apesar dos impactos negativos relatados, muitos tutores continuam firmes na escolha de dividir a cama com seus pets, alegando que os benefícios emocionais superam as possíveis perdas no sono. É o caso de Angela Wilson, que comprou diversas camas luxuosas para o pet dela, Sadie. Mesmo assim, Sadie insiste em subir na cama da tutora, onde ambas costumam dormir tranquilamente, lado a lado. Para Wilson, não há incômodo: “As pessoas reclamam que seus cães as acordam, mas ela não me acorda. Ela é muito gentil”, afirmou.
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