Scan ocular poderá determinar risco cardíaco e envelhecimento precoce

novembro 6, 2025

Um simples exame ocular pode, no futuro, ajudar médicos a identificar riscos de doenças cardíacas e sinais de envelhecimento biológico, segundo um novo estudo que reforça a importância dos olhos como indicadores do estado geral de saúde. A pesquisa acrescenta evidências a um conjunto crescente de trabalhos científicos que demonstram como a retina pode refletir as condições do sistema circulatório e, por consequência, de todo o organismo.

Nesse estudo, os cientistas analisaram minuciosamente os minúsculos vasos sanguíneos localizados na parte posterior dos olhos, conhecidos como vasos retinianos, cuja estrutura fornece pistas sobre a saúde vascular geral. Os pesquisadores também identificaram proteínas que parecem estar associadas a certas alterações nesses vasos, o que pode, futuramente, abrir caminho para o desenvolvimento de tratamentos específicos voltados à prevenção de doenças cardiovasculares e ao retardamento do envelhecimento biológico.

Segundo a geneticista Marie Pigeyre, integrante da equipe responsável pelo estudo, os olhos oferecem uma forma única e não invasiva de observar o sistema circulatório humano, uma vez que modificações nos vasos retinianos tendem a refletir mudanças semelhantes nos vasos de menor calibre distribuídos por todo o corpo.

Trabalhos anteriores já haviam demonstrado a correlação entre a complexidade dos vasos da retina e a saúde do coração, mas a pesquisa atual buscou compreender mais profundamente os mecanismos que sustentam essa relação.

Para isso, foram examinados exames oculares e dados genéticos de 74.434 voluntários. A análise revelou que indivíduos com vasos sanguíneos oculares mais simples e com menos ramificações apresentavam maior predisposição genética a doenças cardiovasculares.

Essa conclusão foi alcançada por meio de uma técnica chamada randomização mendeliana, que utiliza variantes genéticas associadas a determinados riscos de saúde, nesse caso, o risco cardiovascular, para compreender relações de causa e efeito. Como o código genético de uma pessoa é imutável, o estudo sugere que a simplicidade estrutural dos vasos retinianos não apenas acompanha o envelhecimento biológico e o risco de problemas cardíacos, mas pode ser consequência dos mesmos processos biológicos subjacentes.

Em um segundo conjunto de dados, os pesquisadores também identificaram proteínas específicas, como a MMP12 e o receptor IgG-Fc IIb, que parecem desempenhar papel importante na regulação da inflamação e na manutenção da integridade dos vasos sanguíneos. Essas moléculas podem, no futuro, servir de base para terapias preventivas voltadas à preservação da saúde vascular.

De acordo com Pigeyre, ao combinar varreduras da retina, informações genéticas e marcadores sanguíneos, o estudo conseguiu mapear vias moleculares que explicam de que forma o envelhecimento afeta o sistema circulatório.

Atualmente, a avaliação de riscos associados ao envelhecimento, como doenças cardíacas, AVCs e demência, exige exames complexos e demorados. Se um simples escaneamento ocular puder oferecer o mesmo tipo de diagnóstico, seria possível realizar triagens mais amplas e precoces, facilitando a detecção de problemas antes que se tornem graves.

Embora a hipótese de que exames oculares possam funcionar como indicadores antecipados de doenças cardiovasculares e neurológicas não seja totalmente nova, este estudo fornece evidências mais robustas e esclarece melhor os mecanismos que justificam essa correlação.

A possibilidade de identificar e tratar, de forma preventiva, as proteínas e os gatilhos inflamatórios responsáveis por danos vasculares representa um avanço significativo diante do envelhecimento populacional global.

Conforme resume Pigeyre, os resultados apontam para potenciais alvos terapêuticos capazes de desacelerar o envelhecimento vascular, reduzir a incidência de doenças cardiovasculares e, em última instância, contribuir para uma vida mais longa e saudável.

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