Lapso de atenção pode ser teu corpo compensando falta de uma boa noite de sono

novembro 5, 2025

A sensação de “desligar” por alguns instantes, especialmente quando estamos privados de sono, é um fenômeno mais complexo do que parece. Uma nova pesquisa conduzida por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) indica que esses lapsos de atenção podem ser uma tentativa do cérebro de realizar tarefas de manutenção que normalmente ocorrem durante o sono.

O estudo utilizou medições cerebrais obtidas por meio de eletroencefalograma (EEG) e de ressonância magnética funcional (fMRI), combinando as duas tecnologias para observar o comportamento do fluxo de fluido no cérebro em tempo real. Durante os períodos de distração, denominados pelos pesquisadores como “falhas atencionais”, foi detectada uma onda de fluido cerebrospinal (CSF) saindo do cérebro e retornando cerca de um ou dois segundos depois. Esse padrão é idêntico ao observado durante o sono profundo, fase em que o fluxo de CSF atua como um sistema de limpeza que elimina resíduos acumulados durante o dia.

Segundo a neurocientista Laura Lewis, do MIT, quando o indivíduo não dorme, essas ondas de fluido começam a ocorrer durante o estado de vigília, o que normalmente não acontece. Contudo, esse processo vem acompanhado de um custo: a perda momentânea de atenção. Em outras palavras, o cérebro tenta realizar processos típicos do sono enquanto a pessoa está acordada, sacrificando a concentração temporariamente.

Os participantes do estudo foram testados duas vezes, uma após uma noite de sono normal e outra depois de passarem a noite inteira acordados em laboratório. Como esperado, o desempenho cognitivo foi consideravelmente pior após a privação de sono. Embora pequenos episódios de distração também tenham ocorrido após uma noite de descanso, eles foram muito mais frequentes entre aqueles que permaneceram acordados. O padrão observado sugere que o cérebro tenta compensar a falta de sono com breves “microsonecas” neurológicas, durante as quais o foco mental é interrompido por instantes para que certas funções sejam restauradas.

O neurocientista Zinong Yang, que liderou a pesquisa, explicou que, diante da necessidade extrema de descanso, o cérebro tenta entrar em um estado semelhante ao do sono, ainda que de forma breve e incompleta, para recuperar parte de sua capacidade cognitiva. Segundo ele, o sistema de fluidos cerebrais alterna entre momentos de alta atenção e fluxos intensos, em uma tentativa de autorregulação.

O sono é reconhecido como um elemento essencial para a saúde e o equilíbrio mental. A privação desse período de repouso aumenta o risco de diversas doenças, prejudica o funcionamento de áreas específicas do cérebro e altera a forma como percebemos o mundo ao redor. O estudo do MIT revela que, quando o corpo é privado de descanso, o cérebro tenta compensar esse déficit com mecanismos automáticos de reorganização interna.

Além do movimento do fluido cerebrospinal, os pesquisadores observaram outras mudanças fisiológicas durante as falhas atencionais, como redução na frequência cardíaca, respiração mais lenta e diminuição do diâmetro das pupilas. Embora esses aspectos não tenham sido aprofundados, os cientistas sugerem que o fenômeno pode envolver um controle integrado que afeta todo o organismo.

Laura Lewis acrescenta que os resultados indicam a existência de um circuito unificado que regula tanto as funções cognitivas superiores, como a atenção, a percepção e a resposta ao ambiente, quanto processos fisiológicos fundamentais, como a dinâmica dos fluidos cerebrais, o fluxo sanguíneo em todo o cérebro e a contração dos vasos sanguíneos. Esses achados reforçam a ideia de que a fronteira entre o sono e a vigília é mais fluida do que se imaginava e que, mesmo acordado, o cérebro continua lutando para se manter equilibrado quando privado do descanso que necessita.

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