Medicamentos podem vir a influenciar o microbioma intestinal por anos

outubro 12, 2025

Pesquisadores do Instituto de Genômica da Universidade de Tartu, na Estônia, identificaram que medicamentos consumidos anos atrás ainda podem influenciar a comunidade de microrganismos que vive no intestino humano. O estudo foi realizado a partir da análise de amostras de fezes e registros de prescrição médica de mais de 2.500 participantes do Biobanco da Estônia, especificamente da coorte dedicada ao estudo do microbioma.

A investigação revelou que a maioria dos fármacos avaliados estava associada a mudanças mensuráveis na composição da flora intestinal, alterações que em muitos casos persistiram mesmo após a interrupção do uso. Essas modificações de longo prazo não foram exclusivas dos antibióticos: antidepressivos, betabloqueadores, inibidores de bomba de prótons e benzodiazepínicos também deixaram marcas características na diversidade microbiana.

Segundo o autor principal do estudo, Dr. Oliver Aasmets, a maioria das pesquisas sobre microbioma considera apenas os medicamentos em uso no momento, mas os resultados agora obtidos demonstram que o histórico de uso de fármacos pode ser igualmente determinante, constituindo um fator surpreendentemente forte para explicar diferenças individuais no microbioma. Esses achados ressaltam a relevância de se levar em conta todo o histórico de medicamentos ao analisar possíveis conexões entre microrganismos intestinais e doenças.

Um dado que chamou atenção foi o impacto dos benzodiazepínicos, fármacos frequentemente prescritos para ansiedade, que produziram alterações semelhantes às observadas em pacientes que utilizaram antibióticos de amplo espectro. A pesquisa também constatou que medicamentos de uma mesma classe, como o diazepam e o alprazolam, não afetam o microbioma da mesma maneira, variando em intensidade no que diz respeito ao desequilíbrio que provocam na flora intestinal.

Em uma segunda fase, realizada com um grupo menor de voluntários, os pesquisadores coletaram novas amostras e observaram que o início ou a suspensão de certos medicamentos gerava mudanças previsíveis no microbioma, o que reforça uma relação de causa e efeito. Apesar de o número de amostras ser reduzido nessa etapa, os cientistas confirmaram efeitos persistentes relacionados ao uso de inibidores de bomba de prótons, inibidores seletivos da recaptação de serotonina e a diversos antibióticos, entre eles as penicilinas associadas e os macrolídeos.

A autora correspondente do estudo, professora Elin Org, destacou que se trata de uma avaliação sistemática e abrangente dos efeitos de longo prazo dos medicamentos sobre o microbioma, baseada em registros reais de saúde. Para ela, a expectativa é que a pesquisa estimule médicos e cientistas a considerarem o histórico medicamentoso dos pacientes ao interpretar dados sobre a flora intestinal, já que os microrganismos presentes no trato digestivo podem ter papel decisivo no desenvolvimento ou prevenção de diversas doenças.

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