De onde se origina a consciência?

outubro 6, 2025

Cérebro experiência extracorpórea consciência — (Foto: AI)

Ainda existe debate sobre se a consciência é gerada por forças quânticas ou se está de alguma forma conectada ao universo como um todo, mas mesmo os físicos teóricos que sustentam essas hipóteses complexas não responderam a uma questão fundamental: onde exatamente se originam os processos da consciência no cérebro.

Peter Coppola, neurocientista da Universidade de Cambridge, buscou responder a essa pergunta por meio de uma análise detalhada de estudos sobre o cérebro acumulados ao longo de décadas. Segundo a definição usada pela neurociência, consciência é a experiência subjetiva qualitativa, ou seja, a sensação de “como é ser” um determinado organismo em um estado específico.

Em um estudo, Coppola procurou compreender o que as evidências mostram, em vez de apenas se apoiar nas teorias dominantes.

Embora diferentes regiões cerebrais desempenhem funções que contribuem para a consciência, algumas parecem ser mais fundamentais do que outras para que possamos ter a percepção de quem somos e do que nos cerca. A ideia predominante sempre foi que a consciência surge a partir da região mais externa do cérebro, chamada de córtex, em especial do neocórtex, uma estrutura evolutivamente mais recente.

Outras partes, como o cerebelo, localizado na base do cérebro, e o subcórtex, que inclui o tronco encefálico e não apresenta mudanças evolutivas significativas há cerca de 500 mil anos, são considerados participantes no processo, mas não a ponto de sustentarem a consciência sozinhos. Entretanto, pesquisas recentes indicam que esse entendimento pode estar incompleto.

Coppola encontrou estudos mostrando que animais que tiveram parte ou todo o córtex removido, assim como pessoas que nasceram com condições em que o córtex era parcial ou totalmente ausente, ainda apresentavam sinais de consciência. Para medir esse estado, os pesquisadores observaram comportamentos ligados à visão, ao movimento e à vocalização.

No entanto, esses indicadores levantam dúvidas importantes: um movimento é voluntário ou apenas reflexo? O olhar acompanha um estímulo ou é uma reação automática? A fala produzida tem sentido ou é apenas ruído? Da mesma forma, a ausência de certos comportamentos não significa necessariamente ausência de consciência.

Além de experimentos invasivos e eticamente questionáveis em animais, os casos mais reveladores vieram de pessoas com hidranencefalia, uma condição rara em que o cérebro não desenvolve o córtex cerebral, sendo substituído por líquido cerebrospinal. Nesses indivíduos, restam apenas estruturas como os gânglios da base, ligados ao controle motor, à cognição e ao sistema de recompensa, as meninges, que revestem o crânio, e o tronco encefálico, já anteriormente relacionado à consciência.

A hidranencefalia costuma resultar em estado vegetativo permanente, mas estudos mostraram que o quadro pode ser mais complexo. Um exemplo notável foi o de uma mulher de 32 anos, que possuía apenas uma pequena parte do córtex frontal preservada e conseguia reagir à música com expressões faciais de prazer e vocalizações, ainda que ininteligíveis.

Esse tipo de observação contraria a teoria de que a consciência não pode existir sem o córtex cerebral. Outros estudos com crianças hidranencefálicas relataram fenômenos semelhantes.

Com base nessas evidências, Coppola sugere que o núcleo da consciência estaria localizado no subcórtex, enquanto estruturas evolutivamente mais recentes, como o neocórtex, atuariam refinando e ampliando essa experiência. A proposta, no entanto, é complexa e exige aprofundamento.

Para o pesquisador, se de fato o subcórtex for suficiente para gerar a experiência consciente, novos estudos poderão identificar quais funções específicas dessa região estão ligadas ao surgimento da consciência e quais seriam os circuitos neurais mínimos necessários para que ela exista.

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