domingo, outubro 26, 2025
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Tem como reverter o lipedema só com dieta?

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Sunniva tentou inúmeros tipos de dietas, mas sem resultados significativos, até descobrir que a causa do problema era o lipedema, uma doença considerada comum, embora pouco conhecida, que afeta principalmente mulheres.

Trata-se de uma condição dolorosa caracterizada pelo acúmulo desproporcional de tecido gorduroso nas coxas e panturrilhas e, em alguns casos, também nos braços, preservando mãos e pés.

Os primeiros sinais apareceram ainda na adolescência, quando suas pernas e braços começaram a crescer de forma desproporcional e acompanhados de dores constantes, mas o diagnóstico correto só veio depois dos 40 anos de idade.

Antes disso, como muitas outras mulheres, acreditou que poderia resolver o problema com dietas, mas sem sucesso, já que estudos recentes demonstram que a gordura associada ao lipedema dificilmente é eliminada apenas com restrição alimentar.

Uma pesquisa de doutorado conduzida na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU) investigou a relação entre dois tipos de dietas e seus efeitos sobre dor, qualidade de vida, peso corporal, composição corporal, apetite e inflamação em mulheres com lipedema.

Foram avaliadas 70 mulheres, com idades entre 19 e 73 anos, divididas em dois grupos: um seguiu uma dieta com baixo teor de carboidratos e o outro uma dieta com baixo teor de gordura, ambas com a mesma quantidade de calorias. O acompanhamento ocorreu por oito semanas, com testes no início e no fim do período. As participantes responderam questionários sobre dor e qualidade de vida, além de realizarem exames de sangue para verificar a presença de inflamação.

Os resultados mostraram que o grupo com baixo consumo de carboidratos apresentou maior perda de peso, redução da sensação de fome e relato de menos dores, enquanto o grupo de baixo teor de gordura registrou apenas melhora na qualidade de vida, sem alteração na intensidade da dor.

No entanto, os exames não identificaram diferença na inflamação entre os grupos, o que indica que a redução da dor pode não estar diretamente relacionada à resposta inflamatória no organismo, mas possivelmente a outros fatores ligados ao metabolismo.

O lipedema é frequentemente confundido com obesidade, mas as duas condições são distintas. Em pessoas obesas, a gordura se acumula de forma difusa pelo corpo, tanto sob a pele quanto em torno dos órgãos internos.

Já no lipedema, o acúmulo ocorre quase exclusivamente sob a pele, em regiões como quadris, coxas, panturrilhas e braços. Isso explica porque, mesmo após emagrecimento, muitas mulheres com lipedema continuam apresentando pernas e braços volumosos, enquanto a gordura de outras áreas, como abdômen, diminui.

Além da desproporção corporal, a dor intensa compromete a mobilidade e a qualidade de vida, criando um ciclo de inatividade e sofrimento. Acredita-se que exista um processo inflamatório no tecido adiposo responsável pela dor, mas as causas ainda não são totalmente compreendidas.

A doença parece ter caráter hereditário, sendo comum encontrar casos em diferentes gerações de uma mesma família, geralmente associados a períodos de alterações hormonais, como puberdade, gravidez e menopausa.

Atualmente, não há diretrizes nacionais na Noruega para o tratamento de mulheres com lipedema. As opções de tratamento disponíveis visam apenas aliviar os sintomas, já que não existe cura definitiva. Entre elas estão o uso de roupas compressivas que ajudam a conter o tecido gorduroso e reduzem a dor, fisioterapia e drenagem linfática.

Em alguns casos, utiliza-se um aparelho chamado pulsador, que funciona como uma calça inflável usada deitada, estimulando os vasos linfáticos e melhorando a circulação. A lipoaspiração é o único procedimento que pode reduzir o tecido gorduroso de forma direta, mas ainda está em fase experimental em hospitais públicos noruegueses e, fora deles, só pode ser realizada em clínicas privadas a custos elevados, chegando a valores que ultrapassam centenas de milhares de coroas norueguesas. Além disso, os efeitos de longo prazo da cirurgia ainda não foram suficientemente investigados.

Para Sunniva, roupas compressivas e o uso do pulsador têm sido fundamentais para reduzir dores e melhorar a disposição, embora ainda conviva com as limitações impostas pela doença. Ela relata ter perdido muitos centímetros de circunferência nas pernas devido à compressão, mas reconhece que o acesso a esses recursos varia entre regiões do país, o que torna a assistência desigual.

Apesar de conseguir levar a vida adiante, afirma que a falta de compreensão da sociedade em relação ao lipedema é um dos maiores desafios, já que muitas vezes é julgada como preguiçosa ou simplesmente obesa. A experiência dela ilustra o impacto de uma doença pouco conhecida, que embora não seja fatal, pode comprometer de forma profunda a qualidade de vida, a mobilidade e até a autoestima de quem convive com ela.

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