A professora, cronista e escritora Júlia Wanderley (1874-1918) deixou para atual geração registros fotográficos sobre a paisagem urbana e social de Curitiba das primeiras décadas do século passado.
Este arquivo, composto por mais de 1.200 itens, encontra-se preservado na Casa da Memória, administrada pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC). O material abrange fotografias, postais e retratos, meticulosamente anotados à mão pela própria com datas, identificações de pessoas e descrições de eventos.
Cada peça oferece uma janela para o cotidiano de uma metrópole em processo de modernização, enriquecida por comentários pessoais que transformam as imagens em documentos históricos de valor inestimável. Um exemplo notável são as minuciosas descrições do Mercado Municipal datadas de 1906.
O acervo foi doado ao Instituto Histórico e Geográfico do Paraná por um familiar nos anos 1970 e, posteriormente, transferido para a guarda da fundação em 1993. Atualmente, está disponível para consulta pública, seja mediante agendamento por correio eletrônico, seja através de visita presencial à instituição.
Uma cronista da cidade
Na época em que as ruas de Curitiba ainda não tinham calçamento, mulheres não votavam e nem frequentavam lojas desacompanhadas, Júlia Wanderley já transitava entre o universo doméstico e o intelectual com desenvoltura rara. Nascida em Ponta Grossa e criada desde a infância na capital, ela se tornou a primeira mulher diplomada professora no Paraná, em 1892.
Filha de um pintor, Affonso Guilhermino Wanderley, que valorizava a cultura e a formação intelectual dos filhos, Júlia Wanderley foi educada com rigor e estímulo ao pensamento crítico. Ainda adolescente, lutou para ser admitida na Escola Normal, até então exclusiva para homens, e se formou aos 18 anos.
Em sua trajetória, foi professora e diretora da antiga Escola Tiradentes, na Praça 19 de Dezembro, em Curitiba, a primeira mulher da história do Paraná a ocupar essa posição. Na função, implementou métodos pedagógicos modernos e se destacou pelo pensamento avançado para a época. Fora das salas de aula, Júlia escrevia artigos assinados com seu nome ou com pseudônimos.
Visionária, ela contribuiu de forma silenciosa com o futuro, guardando imagens de Curitiba que se tornaram históricas. Atenta às mudanças da cidade, passou a colecionar fotografias, postais e retratos, muitos recebidos por correspondência, outros comprados em estúdios fotográficos ou presenteados por amigos.
Caligrafia na imagem
Julia anotava à mão cada imagem, com datas, nomes, eventos e observações pessoais. A imagem do novo Mercado Municipal, na Praça Generoso Marques, por exemplo, vem acompanhada de uma descrição precisa sobre sua construção, reforma e localização: “Mercado de Curitiba construído em 1874 por iniciativa do Dr. João José Pedrosa, então Presidente da Comarca. A primeira pedra foi colocada solenemente a 19 dezembro de 1873. Reformado por Brasilino Moura em 1906. Antes de 1874, o Mercado funcionou em velhas casinhas situadas na atual Praça Municipal, ao lado desse Mercado. Praça Municipal, 1904”.
Em um cartão com vista da Praça Tiradentes, datado de 1905, ela registra o local onde conheceu o marido, Frederico Petrich. Em outra, aponta uma procissão se dirigindo ao bairro Cabral e, na anotação, menciona a casa da irmã onde nasceu o sobrinho Julinho (Júlio Wanderley), criado por ela como filho.
A coleção foi doada ao Instituto Histórico e Geográfico do Paraná nos anos 1970 por Julinho Wanderley. Em 1993, foi firmado um acordo para reprodução e guarda da coleção pela Fundação Cultural de Curitiba. Desde então, parte do acervo passou a integrar a Casa da Memória, onde é conservado, grande parte já digitalizado e está disponível para consulta pública.
SERVIÇO
Para ter acesso à Coleção Julia Wanderley é necessário solicitar por e-mail (casadamemoria@curitiba.pr.gov.br), ou comparecer diretamente na Casa da Memória: rua São Francisco, 319 – São Francisco. Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 18h
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