Celebridades já experimentam a sensação de flutuar em gravidade zero, enquanto bilionários falam em construir cidades no espaço e em Marte, como parte de uma visão que pretende abrir caminho para a exploração e a habitação de longo prazo fora da Terra. No entanto, o maior desafio para viver no espaço não está em foguetes ou robôs, mas sim no corpo humano, que é biologicamente adaptado às condições terrestres e extremamente vulnerável em outros ambientes. Sem corrigir ou encontrar soluções viáveis para essa limitação, a vida além da Terra permanece impossível.
Para entender melhor o quão distante ainda estamos de tornar isso realidade, foram ouvidos astronautas, cientistas, médicos e até uma pessoa que pagou o equivalente a cerca de 147 milhões de reais para participar do programa espacial da Rússia. Apenas 757 pessoas já viajaram ao espaço, e um número ainda menor permaneceu lá por longos períodos. Ninguém jamais viveu fora da Terra por mais de 14 meses consecutivos, o que significa que há grandes lacunas no conhecimento sobre os efeitos de longo prazo da vida em ambientes de microgravidade.
Sabe-se, entretanto, que não é um estilo de vida saudável. Permanências prolongadas no espaço causam perda de massa muscular e óssea, queda da pressão arterial e visão turva. Embora esses efeitos geralmente desapareçam após o retorno ao planeta, a exposição à radiação cósmica pode deixar sequelas permanentes, como maior risco de câncer, catarata e danos ao sistema nervoso central. É provável que quanto mais tempo uma pessoa passe no espaço, pior fique sua saúde, e até mesmo viagens relativamente curtas a outros mundos, como uma ida e volta a Marte, levariam de dois a três anos.
O astronauta da NASA Frank Rubio, que passou 371 dias seguidos na Estação Espacial Internacional, disse que demorou seis meses para se recuperar de um problema chamado informalmente de “síndrome da cabeça inchada e pernas de passarinho”, causada pela redistribuição dos fluidos corporais em microgravidade, que incha o rosto e afina as pernas.
Quanto aos destinos possíveis, eles são poucos e todos apresentam problemas graves. A órbita baixa da Terra, ou LEO, é prática, mas já contém mais de 9 mil toneladas de lixo espacial, aumentando o risco de colisões fatais. A Lua está próxima, porém não possui ar respirável, quase não tem atmosfera para proteger contra radiação, e suas noites duram cerca de duas semanas terrestres. Marte tem uma atmosfera mais espessa que a lunar, mas igualmente sem oxigênio, com solo tóxico e tempestades de poeira perigosas. Fora da Terra, o oxigênio livre na atmosfera (que permite respirar sem equipamentos) é inexistente, e qualquer tentativa de inspirar ar em outro planeta levaria à morte quase imediata.
Planetas possivelmente semelhantes à Terra podem existir fora do Sistema Solar, mas estão a distâncias inalcançáveis com a tecnologia atual, podendo levar de décadas a milênios para serem alcançados. Por isso, seria necessário construir estruturas de proteção para viver, o que traz seus próprios desafios. Empresas e agências estudam como criar ambientes habitáveis no espaço, na Lua e em Marte. A Blue Origin e a NASA, por exemplo, avaliam imprimir estruturas em 3D e extrair oxigênio do solo lunar, enquanto a SpaceX planeja transformar o dióxido de carbono da atmosfera marciana em metano para abastecer colônias e foguetes de retorno, processo conhecido como utilização de recursos in situ (ISRU), ainda não comprovado em larga escala.
Alguns, como Jeff Bezos, defendem que não se deve construir em planetas, mas sim criar habitats giratórios no espaço, conceito proposto pelo físico Gerard K. O’Neill na década de 1970, capazes de gerar gravidade artificial por força centrífuga, embora esse projeto seja tão complexo e caro que poderia levar séculos.
Qualquer que seja o destino, há o risco da radiação. Astronautas na Estação Espacial Internacional recebem cerca de 100 vezes mais radiação que na Terra, e uma viagem de três anos e meio a Marte exporia cada tripulante a radiação equivalente a 16.500 radiografias de tórax, suficiente para causar sérios danos à saúde. Uma única erupção solar poderia matar toda a tripulação em horas, exigindo abrigos subterrâneos para proteção, já que o solo funciona como barreira natural.
As naves também precisariam ser densas e esféricas, com áreas habitáveis cercadas por água para absorver radiação. Além disso, cultivar alimentos em outros mundos é um desafio. Plantas já são cultivadas na Estação Espacial Internacional com luzes de LED, mas não em quantidade suficiente para manter uma tripulação sem o envio de suprimentos da Terra, o que seria inviável em Marte. O solo lunar e marciano contém compostos tóxicos que precisariam ser removidos por lavagem com água, aquecimento a altas temperaturas ou uso de bactérias modificadas antes mesmo do plantio.
Questões médicas são outro obstáculo. No espaço, o sangue não escorre, mas forma bolhas flutuantes, anestésicos em aerossol podem se espalhar pelo ar e sedar acidentalmente a tripulação, e até anestesias por injeção podem não funcionar adequadamente sem gravidade. Uma mensagem de emergência enviada de Marte levaria 20 minutos para chegar à Terra, tornando cirurgias extremamente arriscadas.
Em experimentos terrestres para simular ecossistemas fechados, como o projeto Biosfera 2, construído no deserto do Arizona nos anos 1990, ocorreram problemas inesperados como queda nos níveis de oxigênio, aumento de dióxido de carbono, falhas nas colheitas e conflitos entre membros, mesmo com apenas oito pessoas. Simulações mais recentes, como as missões HI-SEAS e CHAPEA da NASA, não apresentaram os mesmos problemas, mas ainda não se sabe como lidar com populações muito maiores.
Outro ponto desconhecido é a reprodução. Não houve gravidez bem-sucedida de mamíferos no espaço e não há registros confirmados de relações sexuais humanas fora da Terra, sendo que a radiação poderia afetar seriamente um feto.
Apesar de tudo, já há milionários e celebridades pagando por viagens curtas ao espaço, como Katy Perry e William Shatner, que duram apenas cerca de dez minutos e não se comparam à construção de uma civilização extraterrestre. O empresário Nik Halik, que já gastou uma fortuna para treinar com o programa espacial russo, afirma que abandonaria a Terra para ser colono, mas o que temos hoje são apenas voos turísticos e não infraestrutura real.
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