sexta-feira, agosto 1, 2025
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Paulo Leminski, o “polaco loco paca”, é o homenageado da Flip 2024

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Um “polaco loco paca”, um “kamiquase” ou até mesmo um “cachorro louco”. Esses são alguns dos adjetivos que o próprio Paulo Leminski usou para descrever a si mesmo. O poeta curitibano, que em agosto completaria 81 anos, será o grande homenageado da 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que ocorre entre 30 de julho e 3 de agosto na cidade fluminense.

O Flip é considerado o maior evento literário do Brasil e um dos mais importantes da América Latina, a Flip celebra a multiplicidade de Paulo Leminski, figura que transitou entre a poesia, a música com uma pequena ajuda de Ivo Rodrigues e outros, as artes visuais e as lutas marciais.

A trajetória do autor é marcada por uma produção vasta e diversa, que lhe rendeu títulos como poeta, tradutor, ensaísta, músico, grafiteiro, professor e judoca. Essa versatilidade foi retratada na exposição “Múltiplo Leminski”, exibida entre 2012 e 2013 no Museu Oscar Niemeyer (MON) e em outras dez cidades, atraindo mais de 600 mil visitantes. Sua obra, conhecida pela concisão e pelo humor, antecipou linguagens hoje comuns nas redes sociais.

Esse caminho aberto por Paulo Leminski em muitas áreas se tornou uma inspiração para as gerações seguintes de escritores, principalmente em Curitiba. “Para nós, que produzimos poesia e literatura, o Leminski é um farol, uma grande luz que emana com a sua multiplicidade e capacidade de ação”, afirma o também escritor Luiz Felipe Leprevost, diretor da Biblioteca Pública do Paraná (BPP).

Curitibano por excelência, um “pinheiro que não se transplanta”, como ele mesmo dizia, Paulo Leminski Filho nasceu em 24 de agosto de 1944 na cidade que tanto se traduz em sua obra. O pai, Paulo Leminski, era filho de poloneses, e a mãe, Áurea Pereira Mendes Leminski, tinha ascendência portuguesa, negra e indígena. Teve também um irmão dois anos mais novo, Pedro Leminski, com quem compôs a música “Oração de um suicida”, que abre o primeiro álbum da banda curitibana Blindagem, de 1981.

Com Ivo Rodrigues, vocalista do Blindagem e também da precursora do rock curitibano A Chave, teve uma grande parceria musical. Além disso, suas composições foram gravadas por nomes como Caetano Veloso, que colocou “Verdura” no álbum “Outras Palavras”, de 1981; pelos “novos baianos” Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira, que gravaram, entre outras, as músicas “Valeu”, “Se houver céu” e “Lêda”; Arnaldo Antunes, com “UTI” e “Além alma”, e por Zélia Duncan, que gravou “Dor Elegante”, antes musicada por Itamar Assumpção, além de outras figuras importantes da cena musical brasileira.

LITERATURA – “Distraídos Venceremos”, título de um de seus livros de poesia, publicado em 1987 pela editora Brasiliense, resume um pouco sobre o caminho em que sua produção literária andou. Apesar de não ter participado diretamente do grupo, Paulo Leminski acabou inserido na chamada Poesia Marginal, movimento literário que surgiu na década da 1970 e é marcado pela independência das publicações, que eram lançadas pelos próprios autores em edições mimeografadas.

Ele, porém, não aparece na antologia “26 Poetas Hoje”, organizada por Heloísa Teixeira e que foi responsável por lançar, em 1975, os poetas da Geração Mimeógrafo, trazendo nomes que caminhavam à margem, mas que hoje são considerados cânones, como Ana Cristina César e Torquato Neto. “A antologia tem uma falha técnica absurda, que é a falta do Paulo Leminski. Mas o Leminski estava no Paraná e naquela época eu não sabia que ele tinha nascido”, chegou a declarar a escritora em entrevistas.

A produção literária começou cedo e, em 44 anos de vida, caminhou entre poesia, prosa, ensaios, biografias e traduções. Aos 19 anos já estava presente nos círculos da literatura, como quando participou, em 1963, do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte, ao lado dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, principais nomes da chamada Poesia Concreta.

“Leminski se alinhou bastante aos poetas concretistas, embora não tenha sido um concretista. Também se alinhou à Poesia Marginal, apesar de não ter feito parte do movimento”, destaca Leprevost.

Os primeiros cinco poemas foram publicados em 1964, na revista Invenção, editada pelo também poeta Décio Pignatari. No ano seguinte, Leminski ficou em primeiro lugar no II Concurso Popular de Poesia Moderna, promovido pelo jornal “O Estado do Paraná”.

“CATATAU” – Já os primeiros livros são editados nos anos 1970. Resultado de oito anos de trabalho, a estreia aconteceu em 1975, com a publicação, pelo próprio autor, do livro de prosa experimental “Catatau”, que tem como personagem o filósofo René Descartes divagando em alucinações pelos trópicos, partindo da premissa de que o filósofo estivesse no Brasil vindo na comitiva do conquistador Maurício de Nassau.

“Do ponto de vista da erudição, o ‘Catatau’ é muito sofisticado. Você vê a erudição de Leminski ser colocada para jogo no ponto de vista da linguagem. Você vê ele experimentando e expandindo a linguagem até limites que talvez a literatura não tinha atingido ainda, apesar das fortes referência a James Joyce”, explica Leprevost. “O ‘Catatau’ faz algo que é próprio, que é só dele, e tem essa premissa maravilhosa que é o Descartes, pai do racionalismo, delirando nos trópicos. O texto é um delírio com método, múltiplo e coeso ao mesmo tempo, além de muito poético”.

Na poesia, sua principal faceta, estreou em 1976 com “40 clicks em Curitiba”, em parceria com o fotógrafo Jack Pires; e publicou também “Não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase” (1980), “Polonaises” (1980), “Caprichos & Relaxos” (1983) e “Distraídos Venceremos” (1987), os dois últimos pela Brasiliense.

A parceria com a tradicional editora também rendeu títulos em outros gêneros, como a série de biografias que retratam “Cruz e Souza” (1983), “Matsuo Basho” (1983), “Jesus A.C.” (1983) e “Leon Trotsky” (1986) e a novela “Agora que são elas” (1984), além de diversas traduções, como “Pergunte ao pó” (1984), de John Fante, e “Um atrapalho no trabalho” (1985), de John Lennon.

Também publicou, por outras editoras, o infanto-juvenil “Guerra dentro da gente” (1988), os ensaios de “Anseios cripticos” (1986) e “Metaformose”, publicado postumamente, em 1994, assim como outros dois livros de poesia “La vie em close” (1991) e “O ex-estranho” (1996), além do livro de contos “Gozo fabuloso” (2005).

TODA POESIA – Mesmo com toda essa produção, e o reconhecimento de outros artistas e intelectuais, a produção de Paulo Leminski permaneceu por algum tempo mais restrita a Curitiba e ao Paraná. Nas palavras de Estrela, foi um processo lento até que ele passasse a ser reconhecido nacionalmente, e mais recentemente, como um dos maiores nomes da cultura brasileira.

O ponto de virada foi em 2013, quando a Companhia das Letras publica a coletânea “Toda Poesia”, fruto de um trabalho de cuidado e dedicação com sua obra, feito principalmente por Alice Ruiz, sua companheira por 20 anos e mãe de três de seus filhos: Miguel (que morreu em 1979, aos 9 anos de idade), Áurea e Estrela.

Após sua morte, em 1989, Alice se dedicou a cuidar dos originais e foi a responsável por organizar e preservar seus escritos, além de propor a publicação da antologia. “Toda Poesia” se tornou um best-seller e figurou entre as listas dos mais vendidos quando foi publicado, algo inédito para um poeta experimental.

Parafraseando um de seus poemas, Paulo Leminski é uma linha que nunca termina. Em seus 44 anos de vida, teve uma produção tão profícua que, mais uma vez, talvez apenas sua própria poesia possa descrever: “Já disse de nós./ Já disse de mim./ Já disse do mundo./ Já disse agora,/ eu que já disse nunca. Todo mundo sabe,/ eu já disse muito./ Tenho a impressão que já disse tudo./ E tudo foi tão de repente…”

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