A obesidade entre adultos continua sendo um dos principais problemas de saúde no Brasil e no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A nutricionista e dietista Lindsay Allen afirma que a questão é multifatorial, envolvendo má alimentação, altos níveis de estresse, pouca massa muscular e falta de movimentação frequente. Embora tanto o excesso alimentar quanto o sedentarismo costumem ser apontados como causas, um novo estudo global sugere que um desses fatores tem peso muito maior que o outro.
Cientistas analisaram mais de 4.000 adultos de 34 populações diferentes, abrangendo desde comunidades caçadoras-coletoras até trabalhadores de escritório. Eles avaliaram o gasto energético total diário, isto é, a quantidade de calorias queimadas por dia, além da porcentagem de gordura corporal e o índice de massa corporal (IMC).
Após ajustes para o tamanho corporal, os pesquisadores descobriram que pessoas de diferentes estilos de vida e níveis de renda queimavam quantidades semelhantes de energia, mesmo com rotinas diárias radicalmente distintas. Segundo as autoras do estudo, Amanda McGrosky e Amy Luke, as variações na quantidade de gordura corporal entre diferentes populações provavelmente não se devem a grandes diferenças nos níveis de atividade física ou no total de energia gasta diariamente. Em vez disso, o excesso de gordura corporal parece ser, principalmente, resultado de uma ingestão calórica muito superior à quantidade de energia que o corpo queima.
Os pesquisadores observaram que pessoas em regiões mais desenvolvidas economicamente tendem a queimar mais calorias, mas isso se deve principalmente ao fato de que costumam ter um peso corporal mais elevado, e corpos mais pesados naturalmente consomem mais energia para se manter.
A conclusão do estudo é clara: o quanto as pessoas comem exerce um papel muito mais determinante no ganho de peso do que a quantidade de exercício praticada. “Nossas análises sugerem que o aumento da ingestão calórica teve um impacto aproximadamente dez vezes maior do que a redução da atividade física na crise atual de obesidade”, declararam os autores.
O neurocirurgião e especialista em longevidade Dr. Brett Osborn, que não participou do estudo, concorda com o ditado popular: “não é possível compensar uma má alimentação com exercícios”. Para ele, “o exercício queima muito menos calorias do que as pessoas imaginam” e esse novo estudo apenas confirma o que ele observa em sua prática clínica: o ganho de peso não está ligado à falta de movimento, mas sim ao excesso de alimentação.
Lindsay Allen também destaca a importância da massa muscular. Segundo ela, ter musculatura suficiente melhora drasticamente o metabolismo e a capacidade de queima de gordura. Ela também ressalta que níveis elevados de estresse afetam o metabolismo, pois os hormônios liberados em situações estressantes colocam o corpo em “modo de sobrevivência”, o que favorece o acúmulo de gordura.
Outro ponto central do estudo envolve os alimentos ultraprocessados, que têm listas extensas de ingredientes, são densos em calorias, duram mais tempo nas prateleiras e são altamente palatáveis. De acordo com os autores, à medida que mais populações forem expostas a grandes quantidades desses produtos, haverá um aumento dos índices de obesidade também em regiões que atualmente apresentam taxas relativamente baixas.
Esses alimentos são fáceis de consumir em excesso devido ao sabor e à textura, mas não promovem saciedade. Além disso, contêm muita energia em porções pequenas e são mais rapidamente absorvidos, o que dificulta que o organismo elimine o excedente calórico. O Dr. Osborn aponta que os alimentos ultraprocessados são projetados para contornar os mecanismos naturais do nosso corpo, especialmente os sinais de saciedade do cérebro. Além disso, eles promovem inflamação e alteram a fisiologia de forma a favorecer o acúmulo de gordura, em detrimento da queima.
Ainda que o estudo tenha ressaltado o papel dominante da alimentação no controle de peso, os pesquisadores afirmam que a atividade física continua sendo fundamental para a saúde cardiovascular, o bem-estar mental e a longevidade. Lindsay Allen reforça que o foco do exercício não deve ser apenas a queima de calorias, mas sim o fortalecimento e o aumento da massa muscular. Isso ajuda o corpo a manter um metabolismo saudável e sustentável a longo prazo.
Dr. Osborn compartilha dessa visão e recomenda treinos progressivamente intensos, especialmente de força, para estimular o metabolismo e potencializar a queima de gordura. Segundo ele, com alimentação adequada e treinamento de resistência, o corpo não só elimina gordura, como também acelera esse processo de forma eficiente.
No entanto, quando o assunto é prevenção da obesidade, as evidências apontam que o maior vilão é o consumo exagerado de calorias — em especial provenientes de alimentos ultraprocessados. “Se você está preocupado com o excesso de gordura corporal, concentre-se nas calorias que ingere”, aconselham McGrosky e Luke. “Ao longo do tempo, é muito mais difícil alterar significativamente o número de calorias que você queima do que controlar o que consome. ” Para Osborn, o problema não está na preguiça ou no sedentarismo. “O que nos adoece de forma lenta, previsível e em larga escala é o fluxo constante de produtos ultraprocessados e vazios em nutrientes, vendidos como se fossem saudáveis ou convenientes. ”
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