quinta-feira, julho 17, 2025
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Barragens estão inclinando o eixo da Terra

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As represas têm sido, há milênios, uma das principais ferramentas utilizadas pela humanidade para controlar a água do planeta. Os primeiros registros dessas construções remontam à antiga Mesopotâmia, e ainda hoje elas cumprem funções semelhantes: irrigação agrícola e controle de enchentes. Com o avanço da tecnologia, passaram também a gerar energia hidrelétrica. No entanto, com a intensificação da construção de grandes barragens entre os séculos XIX e XX, começaram a surgir evidências de consequências não intencionais causadas por essas obras. Além de afetarem profundamente os ecossistemas naturais, prejudicarem a qualidade da água e acelerarem a erosão do solo, essas estruturas influenciaram até a posição dos polos da Terra.

Uma pesquisa recente identificou que a construção desenfreada de barragens entre os anos de 1835 e 2011 resultou no represamento de uma quantidade tão grande de água que alterou levemente a rotação axial da Terra. A crosta terrestre repousa sobre uma camada de rocha líquida, e alterações na distribuição de massa na superfície, sejam causadas por geleiras em eras glaciais ou pelo acúmulo de água em reservatórios artificiais, podem provocar mudanças na orientação do planeta. Os autores da pesquisa comparam esse efeito a girar uma bola de basquete com um pedaço de argila grudado: a massa adicional tende a deslocar o eixo de rotação da bola em direção ao equador, um processo conhecido como “migração polar verdadeira”.

Apesar dessas mudanças, a Terra não corre o risco de virar de lado como o planeta Urano. Os quase 7.000 grandes reservatórios construídos ao longo de dois séculos deslocaram os polos em aproximadamente 0,91 metro e provocaram uma queda no nível médio global dos oceanos de cerca de 2,1 centímetros. Segundo Natasha Valencic, autora principal do estudo, ao reter água em represas, essa massa é retirada dos oceanos e redistribuída pela superfície terrestre, contribuindo não apenas para a queda no nível do mar, mas também para o deslocamento do eixo terrestre. Ela ressalta que esse movimento não é suficiente para desencadear mudanças climáticas drásticas como uma nova era do gelo, mas tem implicações observáveis.

A movimentação dos polos também acompanha o avanço da industrialização mundial. Entre 1835 e 1954, a maioria das barragens foi construída na América do Norte e na Europa, fazendo com que o Polo Norte se deslocasse cerca de 20,3 centímetros em direção ao meridiano 103º leste. Já na segunda metade do século XX, com o crescimento da construção de represas na Ásia e na África Oriental, os polos passaram a se mover novamente, dessa vez aproximadamente 55,9 centímetros em direção ao meridiano 117º oeste.

Um dos exemplos mais impressionantes desse impacto é observado na Represa das Três Gargantas, na China, considerada a maior do mundo. Em 2005, o cientista da NASA Benjamin Fong Chao demonstrou que, quando cheia, essa estrutura desacelera a rotação da Terra em 0,06 microssegundo — ou 60 bilionésimos de segundo.

Além das represas, outras ações humanas também influenciam o posicionamento dos polos. Um estudo de 2023 analisou o impacto da extração de água subterrânea em grande escala e estimou que, entre 1993 e 2010, a perda líquida de água atingiu aproximadamente 2 trilhões de toneladas, o que contribuiu para um deslocamento médio anual dos polos de 4,36 centímetros.

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