Não gostar de se exercitar é algo com o qual a maioria das pessoas se depara em algum momento da vida. Antes que o hábito se estabeleça e a disciplina de frequentar a academia se torne parte da rotina, é comum adiar compromissos com o treino, desligar o despertador, evitar encontrar o ex-personal trainer na rua e ter a constante sensação de que nenhuma rotina de atividade física parece funcionar. Embora a regularidade e os resultados visíveis costumem ajudar a mudar essa percepção, uma nova pesquisa sugere uma abordagem mais inteligente: escolher exercícios que combinem com seu tipo de personalidade.
O estudo teve como objetivo responder a uma questão específica: a personalidade de uma pessoa pode influenciar o quanto ela é fisicamente ativa, o quanto ela gosta de determinados tipos de exercício e sua capacidade de manter uma rotina de treinos?
Para investigar isso, os pesquisadores recrutaram 86 participantes por meio de boletins informativos enviados por e-mail e anúncios nas redes sociais. Os voluntários foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um grupo realizou, por oito semanas, um programa de treinos em casa com bicicleta ergométrica e exercícios de força, enquanto o outro grupo permaneceu em repouso, atuando como grupo de controle.
Antes e depois do período do estudo, os pesquisadores mediram os níveis de aptidão física dos participantes, incluindo a capacidade cardiovascular (VO2 de pico), a recuperação da frequência cardíaca e a percepção de prazer ao realizar exercícios em diferentes intensidades. Também foi avaliada a personalidade de cada indivíduo com base nos cinco grandes traços da psicologia: extroversão, consciência (ligada à organização e persistência), agradabilidade, neuroticismo e abertura a novas experiências.
Os resultados foram reveladores. O estudo mostrou que a personalidade tem influência tanto no tipo de atividade preferida quanto no desempenho físico. Indivíduos com altos níveis de consciência tendiam a ser mais ativos fisicamente de modo geral e apresentaram melhor condicionamento físico. Aqueles com altos índices de extroversão demonstraram maior capacidade cardiovascular. Já os participantes com maior grau de neuroticismo tiveram recuperação cardíaca mais lenta.
Em relação às preferências, pessoas extrovertidas demonstraram maior gosto por exercícios de alta intensidade, enquanto indivíduos com traços de neuroticismo mostraram menos interesse por atividades que exigem esforço contínuo. Ainda que esse grupo normalmente apresente comportamentos menos saudáveis, eles foram justamente os que mais se beneficiaram com treinos aeróbicos voltados para a redução do estresse.
Segundo os autores da pesquisa, os resultados fornecem indícios importantes sobre como os traços de personalidade influenciam os comportamentos ligados ao exercício, o prazer que se sente ao se exercitar e os efeitos a longo prazo dessa prática. As conclusões sugerem que acompanhar e considerar as características de personalidade pode ser útil tanto para novos estudos quanto para o desenvolvimento de programas de treino adaptados às necessidades individuais.