segunda-feira, julho 14, 2025
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Câncer no pulmão por causa da poluição aumenta no Brasil

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Talvez você associe o câncer de pulmão principalmente ao hábito de fumar, mas novas pesquisas indicam que essa relação não é tão exclusiva quanto se pensava. Vários fatores têm sido associados a mutações genéticas que contribuem para o desenvolvimento da doença mesmo em pessoas com pouca ou nenhuma exposição ao cigarro, e a poluição do ar aparece como um dos principais suspeitos nesse processo.

Um estudo analisou tumores pulmonares de 871 pessoas que nunca fumaram, residentes em 28 regiões diferentes com níveis variados de poluição atmosférica, distribuídas por África, Ásia, Europa e nas Américas. Os pesquisadores usaram o sequenciamento completo do genoma para identificar padrões de mutações no DNA, conhecidos como assinaturas mutacionais, uma espécie de impressão digital molecular que revela exposições anteriores a agentes como substâncias químicas e poluentes.

Ao combinar os dados genéticos com informações detalhadas sobre a poluição do ar obtidas por satélites e sensores de monitoramento ao nível do solo, os cientistas identificaram um padrão claro: indivíduos não fumantes expostos a concentrações mais altas de partículas finas (PM2.5) apresentaram mais mutações genéticas em seus tumores pulmonares.

Essas mutações não ocorriam de maneira aleatória. O estudo observou um aumento expressivo nas chamadas mutações motoras, responsáveis diretas pelo crescimento do câncer. Ainda que não exista uma assinatura genética única que possa ser atribuída exclusivamente à poluição, a correspondência entre os níveis de poluição e os padrões de mutações reforça a ligação entre ambos.

Surpreendentemente, algumas dessas assinaturas genéticas eram quase idênticas às observadas em fumantes. Um dos padrões mutacionais típicos do tabagismo foi encontrado quase quatro vezes mais frequentemente em pessoas que viviam em regiões com altos índices de poluição. Outro padrão, normalmente associado ao envelhecimento celular, apresentou um aumento de aproximadamente 76%.

Esses resultados indicam que a exposição prolongada à poluição atmosférica pode causar danos celulares semelhantes aos provocados pelo cigarro ou pelo envelhecimento natural. Já se sabia que o ar poluído representava um risco à saúde, mas considerando que milhões de pessoas estão expostas a ele diariamente, é essencial compreender melhor esses fatores de risco para promover uma vida mais longa e saudável para todos.

No Brasil, a situação é igualmente preocupante. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de pulmão segue entre os mais letais do país, sendo o terceiro mais incidente entre os homens e o quarto entre as mulheres. Embora o tabagismo ainda seja o principal fator de risco, estima-se que cerca de 15% dos casos ocorram em pessoas que nunca fumaram. Em grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, os níveis de PM2.5 frequentemente ultrapassam os limites considerados seguros pela Organização Mundial da Saúde, especialmente em dias de baixa umidade e intensa circulação de veículos.

Um relatório do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) aponta que, em regiões metropolitanas brasileiras, a principal fonte de partículas finas ainda é o transporte rodoviário, seguido por emissões industriais e queimadas. Estudos conduzidos no estado de São Paulo mostraram correlações diretas entre dias com pior qualidade do ar e aumentos em internações por doenças respiratórias e cardiovasculares. Em cidades amazônicas, a poluição oriunda das queimadas, especialmente no período de seca, também tem sido alvo de preocupação crescente por seus impactos sobre a saúde pública.

Os achados do estudo internacional são particularmente relevantes, pois revelam que a poluição pode induzir mutações genéticas similares às provocadas pelo cigarro. Um dos padrões mutacionais típicos do tabagismo foi encontrado quase quatro vezes mais frequentemente em pessoas que viviam em áreas com altos níveis de poluição do ar, mesmo sem nunca terem fumado. Outro padrão, ligado ao envelhecimento celular, apresentou aumento de 76% nessas populações expostas.

Essas evidências reforçam a necessidade de políticas públicas mais eficazes no combate à poluição atmosférica. No Brasil, embora existam legislações ambientais voltadas para o controle de emissões veiculares e industriais, sua fiscalização é frequentemente falha e os padrões de qualidade do ar estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) ainda estão aquém das diretrizes atualizadas da OMS. A ausência de monitoramento em várias cidades médias e pequenas também dificulta o diagnóstico do problema em escala nacional.

Com milhões de brasileiros expostos diariamente a níveis prejudiciais de poluição, compreender a conexão entre qualidade do ar e o risco de câncer se torna uma urgência sanitária. Ao revelar os mecanismos genéticos por trás dessa relação, estudos como esse fornecem a base científica necessária para impulsionar mudanças estruturais em planejamento urbano, transporte, energia e saúde pública, fundamentais para proteger a população de riscos silenciosos, porém profundos.

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