quinta-feira, julho 3, 2025
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Existe quantia segura do consumo de carne processada?

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Especialistas em nutrição afirmam, com base em evidências consistentes, que não há uma quantidade segura para o consumo de carnes processadas. Essa conclusão reforça os alertas sobre os riscos relacionados à dieta e ao desenvolvimento de doenças graves, como câncer, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. O estudo mais recente sobre o tema analisou dados de mais de 60 pesquisas anteriores, focando no impacto de carnes processadas, bebidas adoçadas com açúcar e ácidos graxos trans na saúde.

Os pesquisadores concluíram que mesmo o consumo habitual de pequenas porções desses alimentos está associado a um aumento no risco de doenças. Entre os dados destacados, está o de que pessoas que ingerem uma unidade de salsicha por dia apresentam um risco 11% maior de desenvolver diabetes tipo 2 e 7% mais chances de desenvolver câncer colorretal, quando comparadas a quem não consome esse tipo de carne. Já o consumo diário de aproximadamente 355 mililitros de refrigerante adoçado elevou em 8% o risco de diabetes tipo 2 e em 2% o risco de doenças cardíacas isquêmicas, que comprometem a irrigação do coração.

Segundo o pesquisador principal, Demewoz Haile, o padrão alimentar que inclui carnes processadas, bebidas açucaradas e gorduras trans industrializadas representa uma ameaça à saúde. A médica Nita Forouhi, chefe de epidemiologia nutricional, também destaca que os resultados confirmam a necessidade de evitar ou reduzir ao máximo o consumo desses itens. Ela acrescenta que, no caso específico das carnes processadas, os dados indicam que não existe um nível seguro de ingestão.

O professor Mingyang Song, ressalta que, embora os aumentos de risco pareçam discretos, os dados são consistentes e significativos mesmo em níveis baixos de consumo. Ele utilizou um método de meta-análise que considera não apenas a média dos resultados, mas também a qualidade dos estudos incluídos. Song observa que esse modelo tende a apresentar resultados conservadores, o que reforça ainda mais a solidez dos achados.

É importante destacar que todos os estudos utilizados na pesquisa são observacionais. Isso significa que é possível afirmar apenas uma associação entre os hábitos alimentares e as doenças, sem comprovar uma relação direta de causa e efeito. Além disso, os dados são baseados no relato dos participantes sobre seus padrões alimentares, o que pode levar a imprecisões. O professor Gunter Kuhnle, aponta que mesmo as técnicas mais avançadas não conseguem eliminar completamente as limitações dos dados dietéticos, o que é uma dificuldade comum na epidemiologia nutricional.

Entre os mecanismos que podem explicar a associação entre esses alimentos e doenças está o potencial inflamatório que carnes processadas e bebidas açucaradas podem exercer no organismo. As carnes processadas, como linguiças, bacon, salame e hambúrgueres, são frequentemente curadas com nitrito, substância que no estômago pode se converter em compostos cancerígenos chamados nitrosaminas. As bebidas adoçadas, por sua vez, facilitam o consumo excessivo de açúcar, o que pode levar ao ganho de peso e afetar processos metabólicos ligados ao risco cardiovascular e ao diabetes. Já os ácidos graxos trans são conhecidos por reduzir o colesterol bom e aumentar o colesterol ruim, favorecendo o acúmulo de placas nas artérias e o desenvolvimento de doenças cardíacas.

Outro ponto levantado por Kuhnle é que os indivíduos que consomem regularmente esses alimentos também podem apresentar outros fatores de risco, como tabagismo, sedentarismo, menor escolaridade, renda reduzida, estresse crônico e acesso limitado a serviços de saúde. Esses elementos dificultam a separação dos efeitos causados exclusivamente pela alimentação.

Embora os dados não comprovem que reduzir o consumo desses produtos resultará automaticamente em menor risco de doenças, eles sugerem que essa redução é recomendável. A adoção de uma dieta variada e equilibrada, que evite excessos, continua sendo a recomendação principal. Cortar a ingestão frequente de bebidas açucaradas, limitar carnes processadas e evitar gorduras hidrogenadas, ainda que atualmente menos comuns, são passos importantes.

Forouhi destaca que uma boa alimentação não depende apenas do que se evita, mas também do que se inclui. Dietas que priorizam o consumo de frutas, vegetais, grãos integrais, leguminosas, oleaginosas e derivados fermentados do leite, como o iogurte, estão associadas à promoção da saúde e ao aumento da longevidade.

Kuhnle conclui que não é necessário adotar uma postura radical. A alimentação vai além da ingestão de nutrientes e está profundamente ligada à cultura, ao prazer, à convivência familiar e à interação social. Reduzir tudo isso a uma lista de riscos de saúde desconsidera um aspecto essencial da experiência humana com a comida.

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