Metade da matéria comum do universo, feita de átomos e presente em estrelas, planetas e gases, estava desaparecida para os cientistas. Agora, pesquisadores conseguiram localizá-la utilizando explosões energéticas conhecidas como rajadas rápidas de rádio, ou FRBs. Essas emissões, extremamente breves e intensas, atravessam o espaço intergaláctico e funcionam como feixes de luz que revelam estruturas invisíveis entre as galáxias.
O estudo, liderado por Liam Connor, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, analisou como a luz desses pulsos desacelera ao passar por nuvens quase imperceptíveis de matéria. A pesquisa se concentrou em 69 FRBs localizados entre 11,7 milhões e 9,1 bilhões de anos-luz da Terra. A origem mais distante, FRB 20230521B, representa o ponto mais remoto já identificado para esse tipo de emissão.
Desses eventos, 39 foram detectados pelo Deep Synoptic Array, um conjunto de 110 radiotelescópios operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) no Owen Valley Radio Observatory. Após a localização das galáxias de origem, os cientistas mediram suas distâncias com instrumentos dos observatórios Keck, no Havaí, e Palomar, na Califórnia.
Outros FRBs foram encontrados pelo Australian Square Kilometre Array Pathfinder, localizado na Austrália Ocidental, que também tem se destacado na detecção dessas emissões. À medida que os FRBs cruzam regiões com matéria, suas ondas se separam em diferentes comprimentos, como ocorre quando a luz solar atravessa um prisma. Esse fenômeno permite estimar a quantidade de matéria no percurso.
Segundo Vikram Ravi, professor assistente do Caltech, observar os FRBs é como enxergar a sombra da matéria: mesmo sem ver diretamente, é possível inferir sua presença e extensão. A análise revelou que cerca de 76% da matéria comum está no meio intergaláctico, 15% nos halos difusos ao redor das galáxias e 9% dentro delas, em forma de estrelas e gás frio.
A distribuição observada está de acordo com previsões de modelos avançados de evolução cósmica, mas representa a primeira comprovação direta obtida por meio de observações. Esses resultados ajudam a resolver um dos enigmas da cosmologia moderna e ampliam a compreensão sobre a estrutura do universo visível.