As mulheres vivem, em média, quase cinco anos a mais do que os homens e também tendem a apresentar um declínio cognitivo relacionado à idade em um ritmo mais lento. Diversas teorias científicas buscam explicar por que isso ocorre, e agora um novo estudo se aprofunda no assunto, tentando esclarecer por que as mulheres costumam viver mais e manter funções cognitivas por mais tempo.
O estudo, realizado com camundongos e recentemente publicado na revista Science Advances, foi conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF). É importante lembrar que pessoas nascidas com sexo feminino carregam dois cromossomos X, enquanto pessoas nascidas com sexo masculino carregam um cromossomo X e um cromossomo Y. A pesquisa contribuiu para o desenvolvimento de uma nova teoria, segundo a qual o segundo cromossomo X das fêmeas, que normalmente fica inativo em uma região periférica da célula, passa a ser ativado mais tarde na vida. Os cientistas descobriram que esse cromossomo “silencioso” expressa mais de 20 genes em camundongos fêmeas idosos, sendo que a maioria desses genes está relacionada ao desenvolvimento do cérebro.
De acordo com Dena Dubal, médica e doutora em neurologia, professora na UCSF e titular da cátedra David A. Coulter em Envelhecimento e Doenças Neurodegenerativas, “no envelhecimento típico, as mulheres apresentam um cérebro que parece mais jovem, com menos déficits cognitivos em comparação aos homens”. Ela afirmou, em um comunicado sobre o estudo, que “esses resultados mostram que o X silencioso nas fêmeas na verdade se reativa tardiamente na vida, provavelmente ajudando a desacelerar o declínio cognitivo”.
Os experimentos foram conduzidos com camundongos fêmeas de 20 meses de idade, o que equivale aproximadamente a humanos com cerca de 65 anos. Em um dos grupos, os pesquisadores manipularam geneticamente o cromossomo X extra para que permanecesse inativo. No entanto, mesmo com essa modificação, o cromossomo passou a expressar mais de 20 genes. Muitas dessas expressões genéticas ocorreram no hipocampo, uma região do cérebro responsável pela aprendizagem e pela memória, que geralmente sofre deterioração com o avanço da idade.
Segundo Dubal, “o envelhecimento despertou o X adormecido”. Essa descoberta pode, portanto, ajudar a explicar por que as mulheres, e seus cérebros, tendem a ter vidas mais longas e mentalmente saudáveis. Com base nesses achados, os pesquisadores esperam desenvolver intervenções que possam estimular essas expressões genéticas benéficas em homens e mulheres, agora que se sabe que elas existem e podem ser reativadas.
Dena Dubal acrescentou ainda que “a cognição é um dos maiores desafios biomédicos da atualidade, mas o cérebro envelhecido ainda possui plasticidade, e o cromossomo X claramente pode nos ensinar o que é possível alcançar”. Embora ainda sejam necessárias muitas pesquisas para entender completamente esses mecanismos, os resultados obtidos até agora são bastante promissores.
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