Uma exposição de 50 desenhos do artista plástico Poty Lazzarotto será aberta no dia 14 de junho, em Morretes no litoral paranaense, todos do acervo permanente do Museu Oscar Niemayer, o MON, que guarda mais de quatro mil obras da coleção particular dele, e ficará aberta ao público no Instituto Mirtillo Trombini.
Falar de Poty Lazzarotto é como discutir Dalton Trevisan e Paulo Leminski, os três são ícones culturais de uma Curitiba e de um Brasil que não existe mais, hoje começando a ser dominado pela cultura da Inteligência Artificial (IA), onde as máquinas pensam e o criador desfruta do ócio criativo.
Reconhecido nacionalmente, Poty construiu uma trajetória ligada à representação da realidade cotidiana. Seus desenhos, feitos com nanquim, carvão e técnicas de hachura, apresentam figuras populares, marginais e personagens comuns. A exposição destaca esboços que retratam cenas urbanas, registros pessoais e estudos desenvolvidos ao longo de diferentes períodos da carreira do artista.
A proposta leva parte do acervo do museu à região litorânea com o objetivo de ampliar o acesso à produção gráfica e estimular o contato com referências da arte brasileira.
Os desenhos presentes na mostra revelam aspectos da condição humana por meio de traços econômicos, mas marcantes. Poty retrata desde trabalhadores anônimos até figuras marginalizadas, abordando temas como solidão, deslocamento e resistência. O curador Ricardo Freire destaca que os personagens retratados, embora distantes de idealizações, carregam densidade simbólica e representam percursos singulares.
A exposição segue aberta por tempo determinado, com entrada gratuita, e deve atrair visitantes da região e turistas que frequentam o litoral durante a temporada de inverno. A programação inclui atividades educativas voltadas a escolas e oficinas que estimulam o contato com técnicas de desenho observacional inspiradas na obra do artista.
Poty Lazzarotto (Curitiba, 1924 – 1998) trilhou o caminho dele a partir do desenho, aprofundando-se, em seguida, na gravura, na qual se tornou um mestre, sendo o criador do primeiro curso de gravura do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Muito da produção dele é biográfica, indo de lembranças de menino em torno de trilhos e vagões de trem a registros de tipos curitibanos e dos cenários que eles habitam.
Poty é direto e sem rodeios em seus desenhos e gravuras. Foi com essa característica espontânea que ilustrou diversas obras da literatura brasileira, como Os sertões, de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Não poderia, também, ter deixado de dar a vida aos curitibanos controversos retratados nos contos de outro ícone paranaense, Dalton Trevisan.
Não bastasse a presença na literatura, Poty deixou os desenhos dele espalhados por Curitiba por meio de seus monumentos ou painéis de azulejo e de concreto aparente, prática que se iniciou com o painel “Desenvolvimento histórico do Paraná”, de 1953, na Praça 19 de Dezembro. Outros exemplos dessa produção são os painéis da travessa Nestor de Castro, nos quais ele mostra, de um lado, a cena de uma Curitiba que já não existe, e, do outro, a evolução da cidade, surgida em meio ao pinheiral, habitada por imigrantes, e que se destaca no campo do urbanismo.
“Doada ao Museu Oscar Niemeyer, a coleção diz respeito a toda essa produção. Nela é possível encontrar originais tantas vezes reproduzidos em livros e outras publicações sobre o artista. Tomamos contato com os desenhos realizados por ele em sua expedição ao Xingu, em 1967, e adentramos a intimidade de um Poty quase desconhecido”, afirma o curador da mostra, Ricardo Freire.
“Ademais, ainda encontramos esboços, projetos e estudos, e podemos perceber a evolução do traço, desde a sua juventude até a maturidade. Dessa forma, a coleção constitui um verdadeiro material etnográfico sobre o artista”, diz.
“A coleção também é formada, é claro, por obras consumadas, desenhos, xilogravuras, litogravuras, gravuras em metal, entalhes em madeira e blocos de concreto: milhares de peças que dão um testemunho claro da polivalência do artista. Por meio de Poty, tomamos conhecimento da arte que se fez e se faz no Paraná”, complementa o curador. “Preservar não apenas o legado desse artista, mas sua memória, é, antes de tudo, um dever – tarefa assumida e adequadamente realizada pelo Museu Oscar Niemeyer”.
Serviço:
Exposição “A Vida em Preto e Branco: Desenhos de Poty”
Instituto Mirtillo Trombini – (Largo Dr. Lamenha Lins – Morretes)
Abertura: 14 de junho