quarta-feira, junho 4, 2025
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Órgãos de tubo estão renascendo em Curitiba

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Poucos equipamentos sonoros alcançam a grandiosidade do órgão de tubo. Sua estrutura combina mecanismos complexos, como registros, ventosas e até 5 mil canos, alguns com dimensões comparáveis a prédios. A tecnologia por trás desse invento remonta ao século III a.C., mas foi durante o Barroco que atingiu seu apogeu.

No estado paranaense, existem 33 exemplares mapeados, segundo pesquisas recentes. A capital concentra a maioria, com 20 unidades em templos católicos e espaços culturais. Muitos permanecem ativos, oferecem apresentações gratuitas e integram programações artísticas.

A manutenção exige especialistas, devido à fragilidade dos materiais e à precisão necessária para afinação. Fabricados com madeiras nobres e metais, esses dispositivos representam investimentos milionários. Projetos de restauro buscam preservar modelos históricos, alguns com mais de um século.

Além do uso litúrgico, concertos didáticos aproximam o público da sonoridade única dessas máquinas. Universidades europeias já manifestaram interesse em parcerias para estudos sobre acústica. Enquanto isso, iniciativas locais promovem workshops com organistas renomados.

O organista Khae Lhucas Ferreira Pereira, consultor do Instituto Curitiba de Arte e Cultura de Curitiba (Icac), descobriu o encanto pelo instrumento ainda na infância, durante as missas na Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, no Centro de Curitiba. “Eu ficava hipnotizado com aquele som imenso que preenchia tudo”, lembra. Hoje, ele toca o órgão da catedral nas celebrações das segundas-feiras ao meio-dia.

Para ele, o fascínio pelo instrumento vai além do aspecto musical. “O órgão de tubos é um patrimônio da humanidade. Ele faz parte da história do culto litúrgico do Ocidente há mais de mil anos e, além disso, é uma construção genial. Assim como nos encantamos com pontes monumentais ou catedrais góticas, o órgão também impressiona pela engenharia envolvida”, declara Khae Pereira.

Ao contrário do que muitos imaginam, não existem dois órgãos de tubos iguais. Mesmo instrumentos de porte semelhante produzirão sons diferentes, pois sua sonoridade depende de inúmeros fatores: os materiais utilizados na construção dos tubos (como chumbo, madeira ou zinco), o formato e espessura das flautas (os tubos sonoros), o ambiente em que estão instalados e até mesmo a temperatura e umidade locais.

O funcionamento do órgão começa pelo ar. O instrumento precisa ser abastecido por um sistema de foles, espécie de pulmão, que injeta ar nos tubos para produzir o som. Antigamente, esse enchimento era feito manualmente, por meio de alavancas operadas por ajudantes. 

“Você liga o interruptor, o enchedor de ar entra em ação e é esse ar que passa pelos tubos e gera o som. Mas isso é só a base. O som final depende da construção, do espaço em que o instrumento está, da afinação, é como se cada órgão tivesse sua própria alma”, explica Khae.

Outro detalhe curioso é que os tubos da fachada do instrumento, geralmente os maiores e mais visíveis, muitas vezes são apenas decorativos. O verdadeiro coração do órgão está escondido, um emaranhado de milhares de tubos, dispostos em câmaras internas atrás da estrutura principal.

Esses tubos são controlados por teclados e uma pedaleira. Um único órgão pode ter de um a cinco teclados, permitindo ao organista alternar entre diferentes timbres, volumes e efeitos, como se comandasse uma orquestra inteira sozinho.

Na década de 1980, Curitiba contava com um curso específico para organistas, oferecido pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, que ajudava a manter viva a tradição do instrumento. Com o tempo, o curso foi descontinuado e a formação de novos músicos passou a depender de iniciativas isoladas ou de estudos realizados fora do país.

Nos últimos anos, no entanto, uma nova frente tem dado esperanças para o renascimento do interesse pelo instrumento, há cerca de cinco anos, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) passou a oferecer um curso de construção e manutenção de órgãos de tubos. É o único curso do tipo na América Latina e já começa a apresentar resultados concretos.

Principais órgãos de tubo de Curitiba e RMC

  1. Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas – Órgão de 1765

O mais antigo instrumento do estado está no Largo da Ordem. A partir de inscrições nas flautas com o ano de 1765, além do estilo gótico da ornamentação do móvel, acredita-se que tenha origem alemã. O órgão mantém ainda uma válvula manual para encher o fole de ar.

Igreja Bom Jesus do Cabral – Maior órgão do Paraná

Construído por Edmundo Bohn em 1963, possui 1.650 tubos e é considerado o maior do Paraná.

Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais

Com 1.200 tubos, o órgão também é da marca Bohn, de origem gaúcha. Ele foi adquirido em 1957 para substituir um órgão Cavaillé-Coll, instrumento francês de prestígio internacional, igual ao usado na Catedral de Notre-Dame, em Paris. Hoje, está na Paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Campo Largo.

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