Wednesday, May 21, 2025
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A África pode ser dividida no meio

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Na África Oriental, a energia geotérmica representa um importante setor econômico, graças ao Sistema do Vale do Rift da África Oriental (EARS). Este sistema, um dos maiores do planeta, estende-se por aproximadamente 6.400 quilômetros desde a Etiópia, ao norte, até o Malawi, ao sul, abrangendo vales de rift e regiões vulcânicas ativas que abrigam alguns dos vulcões mais famosos do mundo, como o Monte Kilimanjaro. Essa intensa atividade vulcânica transformou o leste africano em um polo geotérmico. No Quênia, por exemplo, a maior parte da eletricidade (90% proveniente de fontes renováveis) tem origem geotérmica.

O sucesso da exploração geotérmica na região trouxe benefícios colaterais para os cientistas que estudam o fascinante EARS. Os dados obtidos pelas empresas durante as perfurações experimentais para localizar e operar campos geotérmicos têm sido úteis para compreender melhor os processos geológicos subjacentes. Embora a teoria predominante sugira que o processo de rifteamento seja impulsionado por correntes ascendentes de material quente e menos denso do manto profundo, ainda não estava claro se essa dinâmica era causada por uma única pluma mantélica ou por múltiplas plumas ao longo dos 6.400 quilômetros do EARS.

Em um estudo recente, pesquisadores analisaram dados coletados no campo geotérmico de Menengai, no Quênia, com foco no gás nobre neônio. Os resultados indicam que o neônio tem origem no manto profundo, provavelmente na região entre o núcleo externo e o manto. Utilizando espectrometria de massa de alta precisão, a equipe identificou uma “assinatura” comum dos gases ao longo de uma vasta extensão, reforçando a hipótese de que o EARS é alimentado por uma única “superpluma” em vez de múltiplos processos mais superficiais.

Fin Stuart, autor sênior do estudo, explicou em um comunicado que a pesquisa buscou entender como o material do interior profundo da Terra alcança a superfície e qual seu papel na formação das grandes estruturas topográficas. Os resultados sugerem a presença de uma imensa bolha de rocha quente, originária do limite entre o núcleo e o manto, localizada sob a África Oriental. Essa estrutura estaria impulsionando a separação das placas tectônicas e elevando o continente africano a centenas de metros acima do nível normal.

Para investigar a hipótese da superpluma, a equipe analisou isótopos de neônio, que podem revelar processos do interior terrestre. Embora esses gases nobres sejam facilmente contaminados pela atmosfera ou por outros gases formados na litosfera, as amostras do campo geotérmico queniano mostraram contaminação mínima. Além disso, características isotópicas semelhantes foram observadas em outras partes do sistema do rift, incluindo basaltos da pluma de Afar, na Etiópia, e no Vale do Rift Ocidental, entre Uganda e a República Democrática do Congo. Segundo os autores, o estudo fornece a primeira evidência geoquímica de um manto profundo comum por toda a extensão do EARS.

Esses dados corroboram um estudo de 2023 da Virginia Tech, que investigou por que o EARS apresenta deformações paralelas ao rift em vez de perpendiculares (o padrão mais comum). A análise da equipe americana também apontou para a existência de uma superpluma profunda, responsável por um fluxo de magma em direção ao norte que explicaria essas deformações incomuns.

Embora o EARS pareça estático em nossa perspectiva de vida limitada, o rift pode eventualmente dividir a África em duas, potencialmente levando à formação de um novo oceano. No entanto, nem todos os rifts evoluem para oceanos, e somente o curso da história geológica poderá confirmar esse desfecho.

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