Substâncias usadas no tratamento de diabetes e obesidade demonstraram efeitos colaterais promissores no controle da ingestão de bebidas alcoólicas. De acordo com uma investigação recente, fármacos à base de GLP-1, como semaglutida e liraglutida, diminuíram em até 70% o hábito etílico em indivíduos com consumo excessivo.
A pesquisa, divulgada durante o 32º Congresso Europeu sobre Obesidade, realizado na Espanha, comparou a eficácia desses compostos com o nalmefeno, droga aprovada na Europa para tratar dependência alcoólica. Os resultados indicaram superioridade dos medicamentos originalmente destinados a emagrecimento e controle glicêmico.
O levantamento acompanhou 262 voluntários em uso dessas terapias, observando mudanças significativas nos padrões de ingestão etílica. Participantes classificados como consumidores frequentes — que ingeriam pelo menos 11 doses semanais, equivalente a seis copos de cerveja ou vinho — registraram os declínios mais expressivos.
Dados adicionais revelaram que nenhum dos envolvidos aumentou a quantidade de álcool após iniciar o tratamento. A resposta foi consistente entre ambos os sexos, sugerindo um potencial novo uso para esses fármacos.
Além de diminuírem significativamente o hábito de ingerir bebidas alcoólicas, pacientes em tratamento com fármacos da classe GLP-1 apresentaram redução média de 7,7 kg em um período de quatro meses. A pesquisa observou que aqueles que diminuíram mais drasticamente a ingestão etílica tiveram resultados ligeiramente superiores, provavelmente pela eliminação de calorias sem valor nutricional provenientes dessas bebidas.
Com o aumento da popularidade de remédios como Ozempic e Wegovy, especialistas investigam efeitos adicionais desses compostos além do controle glicêmico e do emagrecimento. Evidências preliminares indicam que essas substâncias podem influenciar o comportamento relacionado a vícios, incluindo a compulsão por álcool e outras drogas.
Hipóteses sugerem que o mecanismo de ação envolve áreas cerebrais responsáveis por sensações de recompensa e satisfação. Embora os resultados sejam promissores, os cientistas ressaltam a necessidade de novos estudos para esclarecer os processos exatos pelos quais esses medicamentos atuam no sistema nervoso central.
Descobertas recentes apontam para uma possível modulação de neurotransmissores associados ao prazer e à saciedade, ampliando o potencial terapêutico dessa classe farmacológica.